Há cinco mil anos, os chineses cultivavam a Cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha, em busca de sua fibra e de seu óleo. O primeiro relato da utilização da planta para fins medicinais também aconteceu na China, cerca de dois mil anos antes de Cristo. A partir de então, o uso da Cannabis vem despertando dúvidas, polêmicas e muito estudo por parte dos pesquisadores, que enxergam em seus compostos constituintes potenciais medicamentos.
Os canabinóides possuem aplicações terapêuticas O estudo da planta iniciou-se no Brasil nos anos 1970, liderado por Elisaldo Carlini, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que analisava as interações entre os canabinóides, substâncias que compõem a Cannabis sativa.
Em 1982, testes em voluntários normais mostraram que os efeitos do THC, canabinóide responsável pelas reações psicoativas da maconha no organismo humano, eram amenizados por outro canabinóide, chamado de canabidiol. “Isso nos levou a pensar que o canabidiol tivesse um efeito ansiolítico [tranqüilizante] ou antipsicótico, ou os dois”, afirma o professor Antonio Zuardi da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP que, na época, trabalhava no laboratório do Carlini e realizou essa pesquisa como parte de sua tese de doutorado.
Nos últimos anos, as pesquisas envolvendo a Cannabis têm tido um grande aumento, pois se descobriu que no homem já existem receptores para os canabinóides, o que facilitaria o sucesso de um possível medicamento. Zuardi diz que a partir dessa nova descoberta e com os avanços no conhecimento da composição química dos compostos e sua atividade dentro do organismo, está sendo possível analisar melhor as potencialidades da planta e comprovar a segurança do tratamento.
Nos últimos anos, as pesquisas envolvendo a Cannabis têm tido um grande aumento, pois se descobriu que no homem já existem receptores para os canabinóides, o que facilitaria o sucesso de um possível medicamento. Zuardi diz que a partir dessa nova descoberta e com os avanços no conhecimento da composição química dos compostos e sua atividade dentro do organismo, está sendo possível analisar melhor as potencialidades da planta e comprovar a segurança do tratamento.
Atualmente, Zuardi está em um estágio mais avançado da pesquisa, que porém ainda necessita de muitos estudos. Os testes em animais já foram feitos e verificou-se que o canabidiol realmente atenua a ansiedade de modo equivalente a medicamentos sintéticos usados há décadas. O mesmo ocorreu em humanos saudáveis, submetidos à situações que provocam ansiedade. Porém, para confirmar o seu efeito ansiolítico, o professor iniciará em breve os testes com pacientes, isto é, com aqueles que realmente sofrem de ansiedade social. "Esperamos que aí possamos confirmar a efetividade do canabidiol", diz ele.
O professor afirma que a grande vantagem do canabidiol é a sua segurança em termos de efeitos colaterais: “até agora não se conhece nenhum efeito colateral importante, apenas sonolência em doses muito altas”, afirma Zuardi.
Outros canabinóidesOs canabinóides em geral apresentam diversas aplicações terapêuticas: efeito analgésico, controle de espasmos em pacientes portadores de esclerose múltipla, tratamento de glaucoma, efeito broncodilatador, efeito anticonvulsivo. Porém, ao contrário do canabidiol, esses outros canabinóides carregam efeitos colaterais, tais como: alterações na cognição e memória, euforia, depressão e efeito sedativo.
A linha de pesquisa da professora Káthia Honório, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, busca compreender melhor as relações entre a estrutura química dos canabinóides e sua atividade biológica, com o objetivo de planejar novos compostos similares: “tentamos modificar a estrutura química dos canabinóides e planejar novas substâncias para potencializar os efeitos terapêuticos e minimizar os efeitos colaterais”, explica a docente.
Para facilitar esse estudo, métodos computacionais estão sendo muito utilizados durante o processo de desenvolvimento de novos fármacos: “a fabricação de um novo fármaco é muito demorada. Para chegar até o mercado pode demorar até 20 anos”, explica Káthia. Sendo assim, as simulações das reações químicas, bem como as possíveis transformações dos compostos em candidatos a futuros medicamentos são feitas todos pelo computador, economizando tempo e dinheiro.
Pelo mundo Não só quem sofre de ansiedade ou distúrbios psicóticos poderá se beneficiar dos derivados da Cannabis. Doenças mais voltadas ao aspecto físico, como a leucemia, epilepsia e o mal de Alzheimer, por exemplo, também podem ter a ajuda dos canabinóides. Essas pesquisas estão sendo desenvolvidas no exterior, em países como Estados Unidos, Inglaterra e Austrália.
Medicamentos à base de THC são usados em alguns países para amenizar náuseas de pacientes com câncer submetidos à quimioterapia e em pacientes com aids. No Canadá, por exemplo, Zuardi afirma que foi liberado um produto, composto de THC e de canabidiol, para ser utilizado como analgésico em pacientes com esclerose múltipla. Em 2003, na Holanda, foi liberada a venda da maconha em farmácias, porém podendo ser comprada apenas com a apresentação de receita médica.
por Carolina Landulfo / Agência USP Online
Um comentário:
A canabis é usada por toda camada da sociedade. O termo maconha deveria ser evitado, pois os derivados terminados em eiro se referem a profissões não tão "nobres", exceção engenheiro. Sapateiro, barbeiro, carroceiro e por aí vai.Aquele que fuma maconha, sofre um preconceito linguístico. Como os adeptos de cultos afros: macumbeiro, ou beberrões de cachaça, caçhaceiro são todos termos negativos, como foi no passado aleijado, leproso. O usuário da canabis deve ser chamado de canabista.
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