terça-feira, 23 de abril de 2013

Haloterapia: vilão ou mocinho das doenças respiratórias?

                                                                                                                                                                                       
Especialista da SPPT comenta os possíveis benefícios, mas alerta população para a necessidade de manter tratamentos e procurar orientação médica em caso de dúvida

Surge na mídia a notícia de que chegam ao país clínicas especializadas em haloterapia, uma antiga técnica descoberta no século 19, na Polônia, que consiste em recriar um ambiente de uma caverna, com temperatura e umidade controladas. Voltada especialmente a portadores de doenças respiratórias, estas salas são recobertas de sal, que também é borrifado no ar para ampliar a inalação.
O principal chamariz para estas clínicas é a afirmação de que permanecer neste ambiente por 45 minutos equivale a quatro dias na praia. O objetivo é limpar as vias respiratórias, reduzir medicamentos utilizados para controlar doenças crônicas, como asma, rinite ou sinusite, e até mesmo aliviar o estresse.

Mas todo o cuidado é pouco quando se trata de doenças sérias, como a asma, responsável por cerca de 250 mil mortes prematuras ao ano no mundo, sendo três mil delas no Brasil.

Segundo o Dr. Élcio dos Santos Oliveira Vianna, diretor de Assuntos Científicos da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), ainda não há estudo científicos que expliquem o mecanismo da haloterapia.
Confira a seguir algumas orientações do médico pneumologista sobre a terapia, e jamais reduza, substitua ou altere um tratamento médico sem a orientação de um especialista.
Em que se baseia a haloterapia e como funciona?

Embora ainda não existam pesquisas sobre a haloterapia, há na literatura médica diversos estudos sobre a inalação de soluções com sal, chamadas hipertônicas, ou seja, salgadas como a água do mar, bem mais salgadas que o soro fisiológico ou que a concentração de sal que temos no sangue. A partir de pesquisas sobre estas soluções hipertônicas podemos entender os efeitos positivos da haloterapia. Dentre eles, a indução da saída de secreção brônquica e consequente liberação das vias aéreas.

Que outros benefícios podemos apontar?

Existe o mecanismo de agir nos receptores neurológicos. A substância salgada, quando entra em contato com o nosso organismo, estimula receptores neurais e há reflexos que também podem contribuir ou não para o corpo humano. Além disso, as substâncias muito salgadas reduzem o crescimento bacteriano e estimulam algumas células inflamatórias. Ou seja: o sal inalado pode matar bactérias e ativar as nossas células da defesa, que passam a agir melhor contra vírus, fungos e bactérias.

A haloterapia é indicada para portadores de doenças respiratórias?

Ela pode ser indicada para uma higienização e o conforto de doenças como a rinite ou a sinusite, estimulando a secreção. É um complemento terapêutico. Há também doenças que acometem os brônquios que podem ser beneficiadas, como a bronquiolite viral na infância. Mas isso não significa que a haloterapia deva ser o único tratamento ou o mais importante. A consulta médica e eventual uso de medicamentos não devem ser descartados.

E no caso de doenças respiratórias crônicas, como a asma, a fibrose cística ou a DPOC?

Soluções hipertônicas já foram indicadas para portadores de fibrose cística e asma. Em alguns casos de asma houve benefícios, mas temos que levar em conta que esse tratamento não está regulamentado, consolidado como uma opção terapêutica; e que pode induzir no asmático uma resposta imediata de contato com o sal que é a de piora transitória, ainda que seguida de melhora. Na fibrose cística, a inalação da solução hipertônica também é indicada como tratamento para a higienização brônquica. Já no caso do enfisema, a haloterapia não deve trazer nenhum benefício, pois não há nenhuma relação com qualquer pesquisa já realizada. Isso porque não é uma doença do brônquio, mas do alvéolo.

Como fica o uso de medicamentos como os broncodilatadores após a adesão a haloterapia?

A haloterapia pode ser realizada como um complemento, desde que a pessoa não deixe de usar o tratamento principal e farmacológico recomendado. Pode vir a ser benéfica, sim, mas que a pessoa empregue como um recurso adicional aos que já vêm sendo ministrados, pois a consequência de se interromper o tratamento para asma pode, inclusive, levar à morte. Os broncodilatadores, popularmente chamados de bombinha, são parte importante do tratamento para a asma. As de uso diário devem ser continuadas, a menos que um médico faça uma orientação diferente. O mais provável é que os medicamentos de alívio possam ser reduzidos com a haloterapia.

Existem contra-indicações para a haloterapia?

Conforme dito acima, é preciso considerar que algumas pessoas podem reagir à inalação do sal, principalmente portadores de asma. Para estes pacientes é contraindicado. O mesmo vale para aqueles que têm brônquios, mucosa ou nariz muito sensíveis. Nestes casos, o sal pode irritar ainda mais.

Da mesma forma que de um lado promovem-se os benefícios da haloterapia, de outro surgem as críticas ao tratamento. Quais os argumentos contrários?

O principal alerta é que é necessário esclarecer, por meio de estudos científicos, o real valor terapêutico desse procedimento. Além disso, há diferentes pacientes, portadores de diferentes doenças sendo submetidos a esse tratamento. Então precisamos ter estudos particulares para cada doença para então definir quais as situações em que é indicada, para quais não é e, ainda, para quais pacientes a haloterapia não terá qualquer efeito.

Qual a sua opinião sobre o assunto?

A terapia com sal tem futuro, mas não acho que precisamos frequentar clínicas especializadas para usufruir de seus efeitos. Uma vez confirmados os benefícios, o tratamento pode ser feito em casa, por meio de inalação de solução com sal. Parece promissor, sim, mas não devemos nos precipitar. Por enquanto, não farei a indicação para meus pacientes nem em clínicas especializadas, nem na forma simples - de inalar o sal em casa.

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