Especialista
da SPPT comenta os possíveis benefícios, mas alerta população para a
necessidade de manter tratamentos e procurar orientação médica em caso
de dúvida
Surge na mídia a notícia de que chegam ao país clínicas especializadas
em haloterapia, uma antiga técnica descoberta no século 19, na Polônia,
que consiste em recriar um ambiente de uma caverna, com temperatura e
umidade controladas. Voltada especialmente a portadores de doenças
respiratórias, estas salas são recobertas de sal, que também é borrifado
no ar para ampliar a inalação.
O principal chamariz para estas clínicas é a afirmação de que permanecer
neste ambiente por 45 minutos equivale a quatro dias na praia. O
objetivo é limpar as vias respiratórias, reduzir medicamentos utilizados
para controlar doenças crônicas, como asma, rinite ou sinusite, e até
mesmo aliviar o estresse.
Mas todo o cuidado é pouco quando se trata de doenças sérias, como a
asma, responsável por cerca de 250 mil mortes prematuras ao ano no
mundo, sendo três mil delas no Brasil.
Segundo o Dr. Élcio dos Santos Oliveira Vianna, diretor de Assuntos
Científicos da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT),
ainda não há estudo científicos que expliquem o mecanismo da
haloterapia.
Confira a seguir algumas orientações do médico pneumologista sobre a
terapia, e jamais reduza, substitua ou altere um tratamento médico sem a
orientação de um especialista.
Em que se baseia a haloterapia e como funciona?
Embora ainda não existam pesquisas sobre a haloterapia, há na literatura
médica diversos estudos sobre a inalação de soluções com sal, chamadas
hipertônicas, ou seja, salgadas como a água do mar, bem mais salgadas
que o soro fisiológico ou que a concentração de sal que temos no sangue.
A partir de pesquisas sobre estas soluções hipertônicas podemos
entender os efeitos positivos da haloterapia. Dentre eles, a indução da
saída de secreção brônquica e consequente liberação das vias aéreas.
Que outros benefícios podemos apontar?
Existe o mecanismo de agir nos receptores neurológicos. A substância
salgada, quando entra em contato com o nosso organismo, estimula
receptores neurais e há reflexos que também podem contribuir ou não para
o corpo humano. Além disso, as substâncias muito salgadas reduzem o
crescimento bacteriano e estimulam algumas células inflamatórias. Ou
seja: o sal inalado pode matar bactérias e ativar as nossas células da
defesa, que passam a agir melhor contra vírus, fungos e bactérias.
A haloterapia é indicada para portadores de doenças respiratórias?
Ela pode ser indicada para uma higienização e o conforto de doenças como
a rinite ou a sinusite, estimulando a secreção. É um complemento
terapêutico. Há também doenças que acometem os brônquios que podem ser
beneficiadas, como a bronquiolite viral na infância. Mas isso não
significa que a haloterapia deva ser o único tratamento ou o mais
importante. A consulta médica e eventual uso de medicamentos não devem
ser descartados.
E no caso de doenças respiratórias crônicas, como a asma, a fibrose cística ou a DPOC?
Soluções hipertônicas já foram indicadas para portadores de fibrose
cística e asma. Em alguns casos de asma houve benefícios, mas temos que
levar em conta que esse tratamento não está regulamentado, consolidado
como uma opção terapêutica; e que pode induzir no asmático uma resposta
imediata de contato com o sal que é a de piora transitória, ainda que
seguida de melhora. Na fibrose cística, a inalação da solução
hipertônica também é indicada como tratamento para a higienização
brônquica. Já no caso do enfisema, a haloterapia não deve trazer nenhum
benefício, pois não há nenhuma relação com qualquer pesquisa já
realizada. Isso porque não é uma doença do brônquio, mas do alvéolo.
Como fica o uso de medicamentos como os broncodilatadores após a adesão a haloterapia?
A haloterapia pode ser realizada como um complemento, desde que a pessoa
não deixe de usar o tratamento principal e farmacológico recomendado.
Pode vir a ser benéfica, sim, mas que a pessoa empregue como um recurso
adicional aos que já vêm sendo ministrados, pois a consequência de se
interromper o tratamento para asma pode, inclusive, levar à morte. Os
broncodilatadores, popularmente chamados de bombinha, são parte
importante do tratamento para a asma. As de uso diário devem ser
continuadas, a menos que um médico faça uma orientação diferente. O mais
provável é que os medicamentos de alívio possam ser reduzidos com a
haloterapia.
Existem contra-indicações para a haloterapia?
Conforme dito acima, é preciso considerar que algumas pessoas podem
reagir à inalação do sal, principalmente portadores de asma. Para estes
pacientes é contraindicado. O mesmo vale para aqueles que têm brônquios,
mucosa ou nariz muito sensíveis. Nestes casos, o sal pode irritar ainda
mais.
Da mesma forma que de um lado promovem-se os benefícios da haloterapia,
de outro surgem as críticas ao tratamento. Quais os argumentos
contrários?
O principal alerta é que é necessário esclarecer, por meio de estudos
científicos, o real valor terapêutico desse procedimento. Além disso, há
diferentes pacientes, portadores de diferentes doenças sendo submetidos
a esse tratamento. Então precisamos ter estudos particulares para cada
doença para então definir quais as situações em que é indicada, para
quais não é e, ainda, para quais pacientes a haloterapia não terá
qualquer efeito.
Qual a sua opinião sobre o assunto?
A terapia com sal tem futuro, mas não acho que precisamos frequentar
clínicas especializadas para usufruir de seus efeitos. Uma vez
confirmados os benefícios, o tratamento pode ser feito em casa, por meio
de inalação de solução com sal. Parece promissor, sim, mas não devemos
nos precipitar. Por enquanto, não farei a indicação para meus pacientes
nem em clínicas especializadas, nem na forma simples - de inalar o sal
em casa. |
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