A
taxa de predação de ovos das espécies Melanosuchus niger (jacaré-açu) e
Caiman crocodilus (jacaretinga) chamou a atenção dos pesquisadores do
Programa de Pesquisa em Conservação e Manejo de Jacarés e do Projeto
Aquavert (desenvolvido pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável
Mamirauá - IDSM - com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa
Petrobras Ambiental). De 559 ninhos avaliados em 145 corpos hídricos, a
taxa de predação chegou a 30,8%. "A coleta de dados sobre as duas
espécies é anual, mas dessa vez a ocorrência da predação dos ninhos nos
fez escrever sobre o assunto", explica Kelly Torralvo, uma das
pesquisadoras envolvidas no estudo.
Os ninhos analisados se encontraram em 145 corpos de água localizados na
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. "Precisávamos
identificar os predadores e avaliar o impacto disso no desenvolvimento
das espécies", conta Kelly. "Não temos um trabalho de acompanhamento
desses ovos até a eclosão, porém a predação é um processo ecológico
natural", avalia. "Os ovos de jacarés são fonte de alimento para outras
espécies, o que se insere na cadeia trófica no período da seca",
completa a bióloga.
Além da predação por outras espécies, os ninhos de jacarés também são
alvos de coleta por moradores locais. "Não temos dados de
comercialização de ovos na reserva, então quando a predação humana é
feita para consumo de subsistência, podemos encarar que o homem está
integrado na cadeia do ecossistema", analisa. Mesmo assim é importante
diminuir a predação feita pelo homem - e o trabalho dos pesquisadores
junto às comunidades tem esse objetivo. "Nós incluímos os comunitários
nas pesquisas, tanto na proteção dos ninhos quanto nas contagens
populacionais - é um monitoramento comunitário", explica Kelly.
Rotina
Durante a coleta de dados (entre outubro e dezembro), o grupo de
pesquisadores e biólogos do Instituto contou com o apoio de assistentes
de campo - os próprios moradores da Reserva. Os ninhos eram avistados
pelo grupo e, em cada um deles, eram coletadas medidas de altura e
largura, coordenadas geográficas, características do micro hábitat, e
informação sobre predação e presença (ou ausência) da fêmea nas
proximidades. Kelly e Robinson Botero-Arias foram os pesquisadores
responsáveis pelo tratamento, interpretação e divulgação dos dados.
A predação era identificada através de cascas de ovos e pelas folhas
espalhadas (que antes formavam um monte para proteção dos ovos). "Cada
vestígio é atribuído a um predador - e na maioria das vezes quem
identificava o predador eram os assistentes", relembra Kelly. "Por
exemplo: no caso de predação por onça o ninho estava pisoteado e muitas
vezes conseguíamos ver as pegadas; por macacos, as cascas seguiam
espalhadas em um raio maior, além do ninho. Já no caso de jacuraru
encontrávamos menos bagunça; e no caso do homem os vestígios eram
evidentes: ovos inteiros ausentes, ninho aberto e, em alguns lugares,
restos de fogueiras pela área", ensina a bióloga.
Impactos e novas análises
O próximo passo na interpretação dos eventos de predação é a instalação
de armadilhas fotográficas. "Assim conseguiremos firmar esses dados,
pois as imagens fornecem provas do predador e de quantas vezes ele
visitou aquele determinado ninho", explica Kelly. "E essa comprovação
acontecerá ainda este ano", completa.
Texto: Lilian Wiczneski |
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