A doença respiratória tem modificado a rotina dos especialistas que não poupam esforços para atender à grande demanda que vem se formando dia após dia
Pneumologistas de todo o país vêm se dedicando em tempo integral ao atendimento e orientação a pacientes e imprensa sobre a nova gripe, afirma a presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), dra. Jussara Fiterman.
"Especialmente nas regiões mais afetadas pela Gripe A, em estados do Sul e Sudeste, estamos lutando para vencer a grande demanda e tirar estas pessoas das emergências dos hospitais".
Profissionais especializados em doenças do trato respiratório, como é o caso da Gripe A, os pneumologistas também têm se reunido para debater os protocolos utilizados atualmente pelo governo para o atendimento das possíveis vítimas da doença.
"Há várias discussões sobre a Gripe A, especialmente por ser a primeira vez que enfrentamos esta situação. Sabíamos que o surgimento do vírus da influenza era iminente, mas, sendo esta uma mutação inédita, não havia como prever quais seriam suas características", afirma o dr. Paulo Teixeira, coordenador da Comissão de Infecções Respiratórias da SBPT.
A volta do vírus
O especialista explica que o vírus Influenza se recombina a cada cerca de 40 anos, fazendo uma nova cepa e tornando-nos imunologicamente vulneráveis.
"Temíamos que aquele Influenza aviária, que teve seu pico em 2003, na Ásia, especialmente em países como Índia, Tailândia e Vietnã, seria esse retorno, mas felizmente não foi. Aquele vírus era muito agressivo, determinando uma mortalidade muito mais alta do que a da Gripe A, mas não teve sustentabilidade, ou seja, não ocorreu transmissão entre humanos, somente a partir das aves infectadas."
Mas eis que chegou o H1N1, uma recombinação dos vírus humano, aviário e suíno, especulam os especialistas. "Esta nova cepa nos pegou despreparados imunologicamente. Mesmo que hoje tenhamos mais informação e equipamentos muito mais modernos para diagnóstico, a mutação faz a situação totalmente inesperada", afirma dr. Paulo.
Gripe A e os jovens
O que tem preocupado os profissionais da saúde especialmente nas regiões Sul e Sudeste é que este vírus mostra um comportamento de extrema agressividade em alguns jovens.
"No universo de pessoas que devem estar infectadas pelo H1N1 atualmente, estas mortes são pequenas se considerarmos que é uma situação de epidemia. O que nos preocupa é que nos jovens sem fatores de risco não há qualquer indício que possa indicar quem vai superar bem, como acontece na maioria das gripes, ou quem vai, a partir de um quadro de gripe pelo H1N1, evoluir para uma pneumonia viral, para insuficiência respiratória, ir para a UTI e acabar morrendo."
O Ministério da Saúde nos últimos dias divulgou a flexibilização da liberação do oseltamivir, medicamento indicado para reduzir o tempo de atividade do vírus. A Sociedade Brasileira de Pneumologia compartilha da posição do Ministério da Saúde na normatização do atendimento dos casos.
"É preciso garantir medicação e atendimento aos pacientes, coibindo a banalização da oferta do oseltamivir e evitando que os pacientes infectados fiquem sem o remédio", afirma dra. Jussara.
Um novo fator de risco
Além dos fatores já citados anteriormente, um novo agravante vem sendo confirmado não apenas no Brasil, mas também no restante do mundo: a obesidade grave.
Os obesos graves são mais comprometidos e os profissionais já podem considerar isto como um fator de risco, assim como os demais.
Há luz no fim do túnel?
"Não podemos afirmar que teremos uma redução de casos com a flexibilização da liberação do oseltamivir. Mas por enquanto usamos o mesmo critério de raciocínio para as demais infecções: quanto mais precocemente a medicação for iniciada, a evolução e as complicações provavelmente serão menores", afirma dr. Paulo
O pneumologista também prevê uma redução dos casos, especialmente no Rio Grande do Sul, um dos estados mais atingidos pela Gripe A, à medida que a temperatura aumente.
"Estamos próximos do pico máximo dos casos, que acreditamos se dê em uma a duas semanas, mas certeza não podemos ter, haja vista que nos EUA os casos vêm se mantendo mesmo com a chegada do verão. No entanto, a redução dos casos de infecções respiratórias e descompensação de doenças respiratórias, em geral, costuma acontecer com o final do inverno, o que já desafogaria o sistema de atendimento de saúde."
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