O
resultado de uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) mostrou que o consumo de alimentos cozidos teria sido
fundamental para a evolução da espécie humana. Eles garantiram as
calorias a mais que o metabolismo necessitava para suportar um cérebro
maior. Mas, hoje, com os eletrodomésticos, como a geladeira, a oferta de
alimentos ricos em calorias tornou-se mais fácil e constante, causando
problemas como a obesidade. É assim que a neurocientista brasileira e
orientadora do estudo da UFRJ, Suzana Herculano-Hourzel resume a nossa
evolução, do ponto de vista do que comemos ao longo de milhões de anos.
Para Suzana, a ingestão de alimentos cozidos pode ter sido o grande
“pulo do gato” evolutivo, que possibilitou o surgimento de cérebros
maiores e, com eles, da curiosidade e do engenho humanos. Cozinhar,
assim, foi um ato libertador que permitiu ao ser humano sair das
cavernas escuras e...tornar-se obeso?
Não. Suzana Herculano-Hourzel explica a epidemia de obesidade dos
dias hoje pela enorme e farta oferta de calorias, principalmente nos
alimentos industrializados, consumidos em larga escala por bilhões de
pessoas.
Retomar a prática de cozinhar a “comida caseira”, com ingredientes
saudáveis obtidos na quitanda e temperados com equilíbrio de sal e
ervas. Essa pode ser a maneira de se enfrentar essa epidemia.
Sexta feira, dia 17, comemoramos o Dia da Revolução na Alimentação
(Food Revolution Day), uma iniciativa global do Instituto Jamie Oliver, o
famoso chef britânico que tem despendido tempo e dinheiro para fazer as
pessoas voltarem a ter o prazer de cozinhar com alimentos saudáveis,
compartilhar uma refeição e conhecer mais o tipo de comida que ingerem.
Não se trata, pois, de um dia para ser “contra” alguma coisa, mas “a
favor” de uma vida saudável e de entender a hora de comer como aquela do
compartilhamento em família e com amigos.
No Brasil, estão programadas várias atividades, como a do Instituto Akatu, que vai realizar um piquenique sustentável.
Nós, do Ethos, nos engajamos nesse dia fazendo uma reflexão sobre os
impactos das ações empresariais num dos grandes problemas de saúde
pública em praticamente todos os países: a obesidade infantil. Mais
especificamente, vamos comentar a decisão da Coca Cola de não fazer mais
anúncios dirigidos a crianças até 12 anos e de reduzir ainda mais o
açúcar em toda a linha de bebidas.
Contexto
A Coca-Cola comunicou, na semana passada, que não fará mais campanhas
publicitárias para crianças menores de 12 anos. A decisão voluntária foi
tomada juntamente com o governo dos Estados Unidos que já vem há algum
tempo fazendo alertas sobre os altos índices da obesidade infantil no
país.
Outra medida prevê que crianças abaixo dessa idade não aparecerão
consumindo produtos em comerciais da marca sem a presença de um adulto.
A companhia também se comprometeu a somente usar em seus anúncios imagens de modelos fotográficos maiores de 12 anos.
A estratégia será implantada em 200 países, entre eles o Brasil.
Também vai reformular embalagens para informar a quantidade de calorias
de seus produtos.
A atitude da empresa, famosa por seus anúncios publicitários, foi
voluntária e atende uma reivindicação também da sociedade civil
brasileira engajada com os direitos das crianças e com a luta contra a
obesidade infantil. Outro compromisso assumido pela empresa é colocar
informações nutricionais na frente de todas as embalagens e valorizar
ainda mais as bebidas dietéticas em mercados emergentes. A intenção
desses atos é que, assim, a empresa passe a ser vista pelos consumidores
não só como incentivadora de um estilo de vida mais saudável, como
também alertar para a importância de uma alimentação balanceada em todas
as idades.
Sobre a obesidade infantil
Os índices de obesidade infantil aumentaram exponencialmente nos
últimos anos, no mundo. Desde a década de 80 a obesidade passou a fazer
parte das doenças pediátricas de uma forma mais pontual e hoje em dia é
um dos males mais comuns enfrentadas por endocrinologistas e pediatras.
Nos últimos 20 anos a obesidade infantil cresceu de 5% para 12% nas
idades de 2 a 5 anos, de 4% para 17% em crianças entre 6 a 11 anos, e de
6,1% para 17,6% entre os adolescentes até 19 anos.
Somente no Brasil, o índice de crianças e adolescentes obesos
aumentou 240% nos últimos 20 anos. De acordo com uma pesquisa realizada
pela Força Tarefa Latino-Americana de Obesidade, entidade que reúne as
principais sociedades de combate ao excesso de peso nesse continente, já
são 70 milhões de pessoas acima do peso em nosso país. Segundo a
Agência Brasil, esses dados representam uma despesa de aproximadamente
R$ 1,5 bilhão anuais aos cofres públicos para o tratamento de doenças
decorrentes do aumento de peso.
No Brasil, o número de crianças acima do peso ideal para a idade já
se assemelha aos dados americanos: uma em cada cinco crianças está com
excesso. Para os médicos, as principais causas para esse sobrepeso são:
falta de sono, ausência de atividades físicas e os maus hábitos
alimentares, como comer fora de casa em horários não regulados e
consumir alimentos muito calóricos e de baixo valor nutritivo.
Com vista a diminuir a ingestão compulsória desses alimentos, o
Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), decidiu
limitar as ações de merchandising para o público infantil. A decisão
começou a valer no dia 1° de março.
De acordo com essa nova autorregulação, crianças não poderão
participar mais de ações de merchandising na televisão. O merchandising
direcionado a esse público até 12 anos também não será mais aceito em
qualquer horário da programação. A publicidade destinada ao público
infantil só poderá ser veiculada nos intervalos comerciais.
Com essas novas regras, o Conar acredita que esteja correspondendo à preocupação da sociedade com a formação das crianças.
Ao adotar a nova medida em relação à publicidade, a Coca-Cola está
indo além do estipulado pelo Conar e isso é o que se espera de uma
empresa socialmente responsável, buscando a sustentabilidade dos seus
negócios.
A Coca lançou essa política no mês em que comemora 127 anos de
atividades e afirmou que ela é resultado de um diálogo travado entre
sociedade, poder público e mercado diante de questionamentos surgidos
por conta de estratégias de marketing. No comunicado oficial
distribuído no dia 8 de maio, a Coca Cola reconheceu que publicidade
tem forte impacto nas decisões de consumo das pessoas, ressaltando que é
possível adotar estratégias responsáveis, que alertem o consumidor para
potenciais consequências de se consumir certos produtos e serviços,
mesmo que sejam da própria anunciante.
Indo ainda mais longe, é possível dizer que, ao adotar a diretriz de não
anunciar mais para crianças, a Coca Cola reconhece que as relações de
consumo são compartilhadas entre os consumidores, os poderes públicos e
as próprias empresas, sendo que estas podem adotar medidas restritivas à
sua própria publicidade. A Coca Cola não acredita que seu faturamento e
que continuará sendo a marca mais valiosa do mundo, avaliada em 77
bilhões de dólares, de acordo com relatório da Interbrand.
Tomara que o exemplo da Coca Cola possa, de alguma forma, contribuir
para a revisão de outras empresas, empregando mais valores éticos e
transparência em suas condutas. |
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