Bastante
citado pela sua ação na redução do LDL-colesterol (lipoproteína de
baixa densidade), conhecido como mau colesterol, o fitoesterol vem
ganhando destaque entre pesquisadores e cardiologistas há alguns anos. A
Associação Americana do Coração¹ recomenda uma ingestão diária de 2g
desta substância e o Programa Nacional de Educação do Colesterol sugere
um consumo de 2g a 3 g de esteróis vegetais para reduzir os níveis do
LDL-colesterol. Essas recomendações são baseadas em estudos, incluindo
uma meta analise de 41 ensaios clínicos, que mostram que a ingestão de
2g de fitosterol pode reduzir o LDL-colesterol em 10%.
Porém, a média de ingestão diária da substância pode variar de
100mg/d a 400 mg/d, dependendo do tipo de dieta e país. Para uma melhor
compreensão da associação entre fitoesteróis, hipercolesterolemia e
saúde cardiovascular é necessário obter informações sobre a quantidade
deste componente consumida pelas diferentes populações. No Brasil esta
informação ainda era desconhecida.
Nosso grupo de pesquisa do Laboratório de Lípides, Aterosclerose e
Biologia Vascular da UNIFESP publicou em fevereiro deste ano o estudo
“Fontes comuns e composição de fitoesteróis e seu consumo estimado pela
população da cidade de São Paulo”. Este estudo transversal foi realizado
com 1.609 indivíduos de ambos os sexos. O cálculo de tamanho amostral
foi baseado no Censo de Dados do IBGE (2010) e incluiu indivíduos
adultos residentes na cidade de São Paulo. Para avaliar o consumo
habitual de alimentos derivados de plantas foi utilizado um questionário
de frequência alimentar que foi validado para estudos populacionais.
Fontes comuns de esteróis de plantas foram identificadas e representadas
como porções para calcular a ingestão diária, que foi estimada em
termos de mg por 100g (mg/100 g-¹) da porção comestível. Para a
estimativa da ingestão diária total da substância foi adicionado o teor
de fitosterol de óleo de soja (20 ml), que é o tipo e quantidade de óleo
vegetal mais consumido no Brasil de acordo com a Pesquisa de Orçamento
Familiar (POF) para a cidade de São Paulo, que é um levantamento da
aquisição de alimentos em todas as regiões geográficas e econômicas da
cidade.
De uma maneira geral, o nosso estudo demonstrou que a ingestão de
fitoesteróis naturalmente presentes na dieta do paulistano fica em torno
de aproximadamente 100mg/d , quantidade muito aquém das recomendação
para obter o benefício de redução do colesterol. Esta estimativa está
próxima dos valores reportados por Vries ²para a Itália (132mg) e Japão
(137mg), porém mais baixos do que os valores dos Estados Unidos (170mg),
Sérvia (181mg) e Grécia (276mg). Ingestão diária de fitoesteróis
(próxima à dos Estados Unidos) foi reportada por Morton³ para o Reino
Unido (163mg) e por Jiménez-Escrig4 para a Espanha (276mg), Holanda
(285mg), Finlândia (271mg), China (322mg), sendo os maiores valores
observados para o México (400mg).
A análise da composição dos fitoesteróis em alimentos vegetais mais
consumidos indicou que o conteúdo deles (em mg/100g da porção
comestível) variou entre os grupos de alimentos. A quantidade de
fitoesteróis presentes nos brócolis (5,6mg), nas cenouras (16,2mg), e no
repolho (5,2mg) foram mais altas do que aquelas obtidas para outros
vegetais. O grão-de-bico, a linhaça, soja e as ervilhas verdes
apresentam o maior teor de fitoesterol. Os frutos também apresentaram
uma alta quantidade da substância, especialmente o abacate (25,7mg),
coco (14,4mg) e laranja (15,3 mg). Finalmente, a maioria dos óleos
vegetais foi identificada como importante fonte de fitoesterol.
O teor de esteróis nos óleos vegetais é maior do que nos outros grupos
de alimentos, sendo que no óleo de milho foi encontrada a maior
quantidade, seguido por canola, girassol e de soja.
Para concluir, uma dieta rica em fitoesteróis inclui o consumo de
legumes, cereais, sementes, brócolis, cenoura, abacate, laranjas e óleos
vegetais. Para que os benefícios no tratamento da hipercolesterolemia e
consequente redução do risco cardiovascular sejam alcançados, a dieta
pode ser complementada pelo consumo de alimentos enriquecidos com
fitoesteróis, como cremes vegetais. Reduzir a ingestão de colesterol e
gordura saturada e incluir o consumo de fibras também são recomendados
para o tratamento da hipercolesterolemia, sempre associado a hábitos de
vida saudáveis, como a prática regular de atividades físicas.
Dra. Maria Cristina Izar é cardiologista, Livre Docente em Cardiologia e
Professora afiliada da Disciplina de Cardiologia da UNIFESP.
Dra. Celma Muniz Martins é nutricionista, Mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo.
Dr. Francisco Fonseca é cardiologista, Coordenador do Setor de Lípides,
Arterosclerose e Biologia Vascular da Universidade Federal de São Paulo.
Referências:
Martins CM, et al., Common Sources and composition of phytoesterols and their estimated intake by the..., Nutrition (2013), http://dx.doi.org/10.1016/j.nut.2012.12.017
1 American Heart Association Nutrition Committee, Lichtenstein AH, Appel
Lj, Brands M. Carnethon M, Daniel S, Franch HA, et al. Diet and
lifestyle recommendations revision 2006: a scientific statement from the
American Heart Association Nutrition Committee. Circulation
2006;114:82-96.
2 de Vries JHM, Jansen A, Kromhout D, van de Bovenkamp P, van Staveren
WA, Mensik RP, Katan MB. The fatty acidand sterol content of food
composites of middle-aged men in seven countries. J Food Comp Analysis
1997;10:115-41.
3 Morton GM, Lee SM, Buss DW, Lawrance P.Intakes and major dietary
sources of cholesterol and phytosterols in the British diet. JHum Nutr
Diet 1995;8:429-40
4 Jiménez-Escrig AJ, Santos-Hidalgo AB, Saura-Calixto F.Common sources
and estimated intake of plant sterols in the Spanish diet. J Agric Food
Chem 2006;54:3462-71
Contatos para Imprensa:
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